RETRATO DE UMA NOITE.
Não há nada que explica
o meu silêncio .
Nem casebre de campo
em noite de luar,
nem pássaro acuado
com medo do Carcará.
Vejo nesta noite
ela me observando,
viro um pássaro ansioso
louco para piar,
mas não posso, o silêncio
me possui,
sou linha no tear.
Vago no espaço do nada,
e no vácuo da imaginação
aranha tece a teia,
da pesada arte de amar,
enquanto a rede se forma,
viro inseto tentando
da teia escapar.
Vou zumbindo na alma
e no coração,
vou pedindo ruído no silêncio,
ouço ecos do além de mim,
enquanto monstros fazem
coro nas avenidas,
me alimento das divindades
que sobrevoa meus tristes ais.
Sou retrato deste agora,
serra a desabar,
construo um triste poema,
para minha tristeza abafar,
enquanto o silêncio avança,
meu rio corri pro mar,
vou deslizando suavemente
na mira daquele olhar.