floresta escura

eu, que nunca havia

olhado essa floresta

caminho que de mim foi encoberto

nasceu-a, sublime, no sufoco

da noite, sua sombra, que

nas copas era mais assombrosa

como uma ninfa a seduzir

um marinheiro, cansado

dos mares e estaleiros

abriu por entre as árvores

uma estrada estreita, que era

porta, mas também sortilégio

como toda água já provada,

sem casa, tijolo ou janela

fui-lhe ao seu encontro

como o imberbe a uma donzela,

no seu fundo mais precioso,

veio-me a mente os monstros

invisíveis, mas assombrosos,

palpitava-me o medo, também

a vontade, que empurrava como

sem receio, um grande segredo,

quanto mais me profundava, mais

insana, minha vida se revelava,

entre a loucura e o desejo,

na lassidão mais pura,

eu já não era homem, mas possessão do medo

o céu, pelas brechas me espiava

as estrelas, o mistério lhe bordavam,

um suspiro, um alivio, eu aspirava,

foi então, que já preso, sem

saber do rumo de minhas costas,

apareceu-me o rosto de uma senhora,

me abordava, seus olhos acesos

como sangue, profundamente, seu

lábio descortinava meu nome,

os meus pés, que na entrada

era de carne, diante do pavor

das trevas, não era madeira

nem esfera, eram raízes com

aparência de pedra e quanto

mais eu me esforçava, mais

duro, me tornava escuro

como da floresta, sua treva,

e quando de humano nada me sobrava,

arqueou sobre meu ombro

suas mãos inquietas, que

ao tocar-me com mais força

fundou-me como um marco

nas sombras, e foi embora,

estranha, voando como uma libélula

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 18/11/2021
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