floresta escura
eu, que nunca havia
olhado essa floresta
caminho que de mim foi encoberto
nasceu-a, sublime, no sufoco
da noite, sua sombra, que
nas copas era mais assombrosa
como uma ninfa a seduzir
um marinheiro, cansado
dos mares e estaleiros
abriu por entre as árvores
uma estrada estreita, que era
porta, mas também sortilégio
como toda água já provada,
sem casa, tijolo ou janela
fui-lhe ao seu encontro
como o imberbe a uma donzela,
no seu fundo mais precioso,
veio-me a mente os monstros
invisíveis, mas assombrosos,
palpitava-me o medo, também
a vontade, que empurrava como
sem receio, um grande segredo,
quanto mais me profundava, mais
insana, minha vida se revelava,
entre a loucura e o desejo,
na lassidão mais pura,
eu já não era homem, mas possessão do medo
o céu, pelas brechas me espiava
as estrelas, o mistério lhe bordavam,
um suspiro, um alivio, eu aspirava,
foi então, que já preso, sem
saber do rumo de minhas costas,
apareceu-me o rosto de uma senhora,
me abordava, seus olhos acesos
como sangue, profundamente, seu
lábio descortinava meu nome,
os meus pés, que na entrada
era de carne, diante do pavor
das trevas, não era madeira
nem esfera, eram raízes com
aparência de pedra e quanto
mais eu me esforçava, mais
duro, me tornava escuro
como da floresta, sua treva,
e quando de humano nada me sobrava,
arqueou sobre meu ombro
suas mãos inquietas, que
ao tocar-me com mais força
fundou-me como um marco
nas sombras, e foi embora,
estranha, voando como uma libélula