ONTENS

A noite venta, espalha e traz

o roxo de mais um domingo,

onde não sei de forma exata

se estou mesmo aqui comigo,

pois o corpo fica e vai o espírito

sobre o âmbar das encruzilhadas,

quando o breu ainda está implícito

entre as velas que nunca se apagam.

Sorvo todo o almiscarado das vinte.

Sinto os espelhos sob ruas molhadas.

Vejo o silêncio bêbado nas esquinas,

mastigo a farinha e derrubo a cachaça

das almas que ao meu lado definham

— nos ontens do nosso hoje sem poesia.