a flor do dia
A flor, esmerada na sua compleição,
total, viva, bela, mortal, e no entanto
fazendo abraços à flor que todos trazemos,
flor da calçada, amarela, vermelha,
violeta e de tantas outras eternas
colorações que nos diz sem o pensamento,
cores variadas, mas essa flor, não é uma flor,
mas a flor que é a pluralidade de muitas
flores que crescem no jardins mais amados,
a flor abandonada pelos olhares que
se consumam do mesmo jeito onde
o presente se esfacela como as
coisas que não cabe no bolso, flor
do jarro, regada, à janela toma vento
e sol que pela manhã ( ou à tarde) acende os
batentes das janelas, apartada, faz
parte do gosto de circulatório do
homem a prender as coisas que amam,
morrem e são trocadas numa visita ao mercado
mas próximo, a flor que a namorado
que nada sabe da mulher que ama,
desesperado, entre orgulho e a forme
a entre gana esperança de mais amor,
essa flor, arrancada da sua
seiva, de sua terra mãe, da sua natureza,
e da proximidade com outras flores
de igual fragilidade,
ela, está morta, como estará morto
em breve o amor do namorado que
logo saberá que entre a ponte do
do amor, há dois mundo intransponíveis,
senão como água e óleo, no mínimo
como a sujeira e o sabão,
onde o cimento que o liga é raro e a
massa disforme que o rompe se
dá como estrelas numa noite escura,
a flor, que une todo tipo de flores,
que aos nossos olhos, não é um
nome, mas a perfeição mortal
que salta como uma bailarina
do fundo terra,
não é um segredo, mas uma
alquimia, o ato divino, onde
nenhuma cabeça pode saber,
salvo, algum coração que
soube das miudezas dos mistérios
invisíveis, sua natureza lhe impõe
a certeza, mesmo que falhe, ela
vem com a certeza das coisas
certas, e logo se saberá brilho, luz, ser e
persistência, num só golpe empurrado
da terra, verdade, no entanto, o tempo
que a vida lhe dá, logo a rouba
de sua sumo, murcha, cai, alguns
arrancam de sua morte, outros
jogam água na esperança de que
volte a ter braços e pernas, o cheira
inebriantes de todo recomeço, que
volte a fazer imagem nos olhos, não
apenas projetores, mas a própria
flor que desafoga seus amantes
das escarpas que nunca lhes
deixam as mãos, durante
sua vida, as flores reinam
absolutas, simplesmente porque
não esconde a que veio, viver o
naco que a natureza lhe protege,
será comida de outras flores, da
formiga e fará da terra a própria
fertilidade, a flor enquanto vive
é imbatível, assim como as borboletas,
que por serem tão belas amam e
são amadas, sem solidão, nada
lhes faltam, nem um verbete a tirará
do encontro que terá consigo mesma,
sem que nada lhe diz que a vida
não vale como a vida em si mesma,
apenas nasce, cresce, se torna
o indizível que ultrapassa a linguagem
e quando se vai, não geme, não sapeca
seus espinhos num futuro marcado
pela sua ausência, lembranças e átomos
povoarão o cosmo com sua passagem, cumpriu o
destino de ser tão bela quanto mortal,
nem uma flor saberá da outra flor, salvo
quando aquela ser o alimento que fará
o futuro dessa tão esplendoroso
como aquela que fez de si o que era
pra ser, embaixo do céu, o sonho
que os homens sonham, atravessar
seu mar de águas imprevisível , sua estranheza,
o desconforto de não se saber quem é, se
contentar e se saber apenas pequenas
ondas de uma realidade se a
se negar, para logo afirmar outra coisa,
parafazê-los mais forte e transcender o imponderável,
e fazê-los acreditar que os pés do próximo
passo terá o piso que lhe sustente,
essa é a beleza miraculosa que as flores
professam para um mundo sempre em rotação,
onde a morte e a vida são irmãs das mais amáveis, pois
seu alimento vem dessa irmã que lhe
põe alimento á mesa, mesmo que
a áurea de sol e alegria tenha ido
para o lado escuro, seria tenebroso,
se essa quisesse da existência mais
do que essa pode lhe dar pra ser
a continuidade que por onde a vida
teia o seus infinitos amanhãs,
do seu modo, tem a certeza que será
apenas uma flor temporal e isso lhe basta
para que o espetáculo não tenha fim
dentro de sua cegueira que enxerga,
e da sua surdez que grita como
como um desesperado daqueles que
sabe mais do que aguentam, a flor
é o homem que quase sempre dá certo.