Vi teus olhos bem ali
Era tardinha
Apeei do trabalho
Que uso para ganhar o dia
Quando a vida deixa estar
Gosto de ir pro mato
Pra beira do rio das Almas
Quando estou sentido
E a poesia me cutuca
Levo bagagem toda vez
Um arrepio, muitas delas
Como se fosse de urinar
Porque a alma tem sede,
Mas é o coração que despeja
E ali, fincado na areia
Sob frondosas gameleiras
Ele dispara, ri, chora, nada
Busca minha face sob as águas
Mas sei que não estou
Ainda em nuvens
Destampo a aguardente
Formulo coisinhas no céu
E meus olhos começam a pingar
Era tu, ontem, naquele eu
Naquela mata ciliar
Naquele mico, naquela pedra
Na vastidão de estrelas
Cortando a noite do sertão
Que já se fazia, eu ali
Olhando o rio brilhar
Sob lua goiana
E os artifícios sobre a ponte
Aquela de sempre
Com seus carros passantes
De boi, de gente, de venturas
Que me fazem ver mais uma vez
Olhando para cima, buscando astros
A face do Divino