APAGÃO
Não é mole, não
Vez em quando na vida
Bate um apagão,
Daí tudo passa a ser mais sofrido.
Apaga-se a luz da memória,
Tudo se apaga,
Cessa toda a tua história.
A vida se torna um tanto vaga.
Viver nas sombras do que se foi,
Num abismo escuro e sem fim.
Parece que se está no limbo
De vida sem princípio e sabe-se lá como vai acabar.
Apaga tudo, ou vai lentamente se apagando,
Como um quadro negro
Em que o professor escreveu toda a história do mundo,
Vai tudo embora e a vida se cala, sem cópia no caderno.
Não sei mais quem eu sou,
E nem ao menos quem são vocês aqui comigo.
Se me amam ou se um dia os amei,
Ainda nem sei se esta é minha casa.
Um emaranhado de coisas esquecidas,
Num canto de minha mente.
Vagando por aí sem destino
E eu ainda vivo nesse corpo que nem sei se é meu.
Quem é essa pessoa que está aqui?
Se sou eu, então por que não me lembro?
E você que me chama de pai, irmão ou amigo?
Quem é essa pessoa com quem falam?
Lembranças já não tenho,
Nem projeto o meu futuro,
Aliás, que futuro posso ter?
Só me resta agora esse incômodo.
Quem me livra disso?
Talvez a morte. Mas já morri.
Um vivo morto, sem suas memórias.
Inconsciente do que já fez, faz ou fará.
Mil perdões se te incomodo,
Mas preciso te perguntar:
Quem é você e quem sou eu?
Não me responda, que daqui a pouco pergunto de novo.
A vida me fez inteligente,
Milhares de palavras aprendi,
Viajei o mundo todo
Nem me lembro do que conheci.
Viver é assim, um dia a gente some,
Mesmo ainda aqui.
Para quem ainda me ajuda,
Nem tenho como agradecer.
Vou passando meu tempo,
Mesmo sem saber que ele passa,
O calendário regride à minha infância.
Quero os meus carrinhos!
Se você ainda me ama,
Pode sim me ajudar.
É só me pôr na cama
E me deixar...