O Baile e o Gigante
Há muito tempo se arrasta
Uma dança torpe e sinistra
Em cada corredor de Brasília
Como uma valsa mal embalada
Pactos e acordos macabros
Votações compradas na surdina
Agudas notas de propina
Passos de dinheiro rachados
Dançam os porcos engravatados
Em seus cargos públicos tão leves
Rodopiando, distribuindo benesses
Para seus familiares e aliados
O gigante aplaude adormecido
Desmontes e golpe do vampiro
Sonâmbulo, elege mítico zorrilho
E toda quadrilha de seus filhos
Dorme tranquilo alheio ao descaso
Meio milhão de corpos e moribundos
Nada o acorda de seu sono profundo
Nem o grito da fome dos sem salário
Ronca e ressona embalado
Pela orquestra da falcatrua
Mas eu sonho um gigante acordado
E o sangue de porcos pelas ruas