Falta
Ninguém quer tratar da ausência
Ninguém quer dar as mãos à falta
e andar por aí de dedos entrelaçados, nulos, apegados
Sem consequência, sem remédio, e em meio a maré alta.
Vestido de estrela fria, luzente e solitária
Em rua costumeira e vazia,
Em esquina voluntária.
Só quem ama o estado de nada
Azul, anterior a qualquer descoberta
Só quem corajosamente se mostra
No silêncio, fartura exposta,
Pele resvalada em cimento
Sangue emprestado, enluarado,
Fissura discreta.
Só quem ama o abismo entre o hiato e lapso
Reluzente
E enlaça o inexistente
É a figura reticente e ambivalente do poeta.