pelo vidro

pelo vidro da janela não percebo a paisagem que se alonga sob a luz

mas vejo o contorno de meus ombros e de meu rosto

como sombras obsessivas em sonhos

insisto em olhar pelo vidro numa tentativa de novas visões

ainda, o que vejo é a mobília como paisagem discreta na sombra

mas não o desenho que se dilui ao horizonte

então na mobília busco uma peça e a arremesso contra o vidro

como tentativa exasperada

de ver o que está lá fora

no entanto, no vidro estilhaçado,

como um juízo severo

o que vejo são muitos cacos refletindo meu rosto, meus ombros, e minha sombra