eu vi, viu
a dor cresce e a nossa
atenção é o seu fermento
o corpo a estrangula
como uma criminosa num
beco sem saída, a dor grita,
afunda, chama-a pela gola
da camisa, mando-a embora.
chama-a de puta, cadela,
invasora de arado alheio.
abismado vagueio no abismo
misterioso, do vasto desconhecido
que me habita, alex, onde pôs
a colher de pau, sua carteira
de identidade, seu paletó de
festas, ninguém responde, salvo
meus dedos que crava na folha em
branco um andar sem rumo, as palavras
não são coisas da alma, tão pouco
a representar como deveria, então
junto-as, minha tristeza é o flamengo
perdendo, a criança do farol, as
vezes que não deu certo, o grito
silenciado, o cuspe sexo, a boca
sem garganta, então entro em nova
camada, agora sei que algo se destrona
dentro de mim, que tenho mais pedaços
que a coisa inteira e elas não falam
a mesma língua, disseram que meu rosto
era feio, disseram que eu era magricela,
mal criado, um bosta, essa doeu, mas
nada disso deveria ser problema porque
não saiu da minha boca, tentaram fazer
eu carregar a mala dos outros, a carga
que não pertencia, ao negar, me deram
um dedo, mas um sorriso, mas não me
engano fácil, apenas guardei o dedo
e essa ânsia de falar mais que a sobrevivência