TEMPO MORTO
Para onde vão as coisas que não fizemos na vida?
O almoço que não pude oferecer a meu pai
As decisões que não tomei em tempo
A palavra que não me dei conta de dar ao amigo
Acontecimentos que jamais acontecerão
Desacontecimentos que jamais se apagarão
Para onde vão?
Parecem se transformar num tipo de substância
Uma coisa turva viscosa de cheiro indefinido
Não evaporam Não escorrem Não envelhecem
Ficam para sempre presos dentro da gente
Embriões sem opção de desfecho
Para sempre vivos
Para sempre suspensos
Eternamente presos em um tempo morto
Do livro: ÓCULOS DE LER O MUNDO (Casa do Escritor, 2021)