Jardins estáticos

na simetria das pedras

o silêncio faz crescer musgo

a palavra úmida na boca da rã

cala histórias noturnas

e eu sonho girassóis

sobre a pálpebra da noite

grilos trincam estrelas

a palavra-estilhaço escorre calada

de algum sonho violado

e eu transcrevo minhas imprecisões

uma ave desperta auroras

a palavra neblina paira sobre a relva

no ponto de ônibus um hiato

uma mulher a mastigar versos

e eu admiro os cílios do dia

o sol arde uma rima

há outra palavra

na aba do crisântemo

a encarar inerte o meio-dia

eu guardo pétalas e saudade entre os lábios

onde se faz poesia

*Poema classificado em 4º lugar na 33ª Noite da Poesia

Campo Grande/MS

outubro/2021