Na próxima esquina
Na próxima esquina
Sabe, amigo
Na próxima esquina
Sim
Na próxima
Que apontará outro caminho
Sim, um novo caminho
Talvez
Novas possibilidades apareçam
E aí
Como a criança a espera do pai ausente
Quem sabe, quem saberá
O que será esse novo momento
Da próxima esquina?
Sigamos
Sigamos como se fosse domingo
E façamos nosso piquenique no primeiro parque que encontar
Gosta de sentar à grama?
Gosta de lanche caseiro?
Então vamos
Vamos ao parque
Na próxima esquina
O pipoqueiro
Um homem por todos conhecido
Sabe que a vida fervilha
Está ali
Todos os dias
E viu muitos casais e seus filhos
Ele vende pipocas e alegria para o casal e filhos
Sabe que dia é hoje
Amigo
Na próxima esquina
Na próxima esquina
Não sabemos
É bom que não saibamos
Esperar o acontecimento
Esperar o acontecimento
Como se espera a noite e suas estrelas
Vamos
Vamos
A próxima esquina não está longe
É bem ali
Bem próximo
Só mais alguns passos
Gosta de pipoca com manteiga?
O pipoqueiro faz uma que é uma delícia
Minha filha caçula adora
Quando saímos e encontramos o seu Manuel
Seu Manuel é o pipoqueiro
Neto do falecido seu João, também pipoqueiro
Seu Pedro, bis avô de seu Manuel, foi quem começou com o carrinho de pipocas
Como vê
Na próxima esquina
Vamos encontrar uma família de pipoqueiros
Minha filha caçula adora
Vamos
Na próxima esquina
Apenas mais alguns passos
Pipoca com manteiga é muito bom
Você não acha?
Tive um professor que dizia que pipoca é a Revolução do milho
Que milho sem ação é só milho
Mas quando estoura...
Novos sabores aparecem e possibilitam
Novas emoções
O que era só milho
Virou pipoca e aconteceram outras coisas
Na próxima esquina
Minha filha caçula adora
O estouro de pipocas
Sabe houve um tempo
Em que o tempo não esquece
Que horas vai chegar a nave espacial
Perguntou um sobrinho de um amigo
Ninguém deu resposta
O menino saiu
E voltou com um desenho
Todos silenciaram
O silêncio
O silêncio, meu amigo
Não é a ausência do som
É a oportunidade de se escutar o próprio pensamento
Já escutou seu pensamento, amigo?
Tente
E descobrirá o quanto é satisfatório
Outro dia ouvi no rádio uma canção
Não entendia o idioma
Entendia a mensagem
Entender a mensagem
É isso que significa ouvir o estouro da pipoca
O estouro da pipoca é a Revolução do milho
Dizia um professor
Aprendi
Você sabe
Viver é aprender
Aprendi que são poucos os passos até a próxima esquina
A flor no jardim
Que beleza que é uma flor no jardim
Consegue imaginar isso
E o beija flor beijando a flor
Quanta beleza
A próxima esquina
O pipoqueiro
Minha filha caçula adora
O estourar a pipoca é a Revolução do milho
Minha filha caçula adora
Ela adora o estouro da pipoca
Se olhou tem que jogar
O que lhe parece o que essa frase quer dizer, amigo
Não parece querer dizer que a vida é uma grande aposta?
Consegue imaginar a vida, sim, a vida
Como se fosse um prêmio colocado sobre a mesa do tempo?
Imagina, cada dia sendo disputado numa partida
Imagina o que isso significa
Concorda que, de certa maneira, é assim que acontece?
Pois sim
Mas como em todo jogo, há os trapaceiros
Em toda regra, uma excessão, outra maneira de trapacear
Reparou que as exceções sempre estão para os contumazes trapaceiros?
Pois sim
Pois sim, caro amigo
As regras não são escritas e ensinadas para que as coisas funcionem, não
As regras são para que a maioria possa se controlada
A regra é a padronização do comportamento
Isso também acontece com o uniforme
O uniforme marca, identifica, agrupa
E ambos são o resultado conhecido com antecipação
Fugir a regra é sinal de subversão
O estouro da pipoca é a Revolução do milho
Minha filha caçula adora
Ela adora o estouro da pipoca
Na próxima esquina
Na próxima esquina
Seu Manuel, o pipoqueiro
Igual seu avô e seu bisavô
Está lá, há muitas gerações
O pai do seu Manuel
Seu Guilhermino desapareceu
Também era pipoqueiro
Mas um dia disseram pra não vender mais, que não tinha licença
Ele continuou e desapareceu
Minha filha caçula adora as pipocas do seu Manuel
Às vezes ela leva para os amigos