Enquanto o tempo passa
No sertão a vida é dura, e as horas parecem que não passam, o sertanejo é cabra forte e não se rende às ameaças.O clima é seco, a terra muito árida, e a dificuldade de produzir é porque não tem água.
De dia um inferno de Dante, um calor escaldante, e um vendaval de poeira esvoaçante. Sob o céu do sertão as nuvens de algodão indicam a direção e o que fazer enquanto o tempo passa.
Montando no seu jegue alazão, armadura de couro de vaca, na cintura desse guerreiro vai um facão e uma faca.E como não conta com garrafa plástica, o vasilhame de água é uma cabaça.
Ao raiar do dia é despertado pela melodia do galo a cocoricar, os pássaros se apresentam, é hora de se levantar. O cheiro do café é forte.
Um cuscuz de milho com ovos mexidos, batata doce, aipim com carne do sol e um requeijão de corte para o estômago não reclamar.
Tudo produzido na roça, e o calo da mão é testemunha ocular. Mas hoje, essa fartura é realidade de uma minoria, pois muitos vivem de procissão, quermesse e oração, que é para merecer de Padre Cícero, um tantinho do seu olhar.
Enquanto o merecimento não vem, aguardam na fila da fome à espera da sorte, porque o governo não vem visitar. Muitos morrem desnutridos, desassistidos, numa cova rasa vão descansar.
Se ao menos tivessem um nome, sobrenome e família para amparar, talvez, esse céu azul e branco brilhante, com sol dilacerante, fosse apenas uma temática de poesia.