Ode ao céu
Posto-me a contemplar o céu
Com a simples candura
de uma criança que,
sentada frente ao mar, conhece-o
pela primeira vez.
Curiosa, perceptiva,
Cheia de um profundo respeito
Por aquilo que é, sabidamente,
Grandioso e
Enveredado pelo profundo mistério
Que perpassa toda a Criação.
Sentada sobre uma banqueta
que dançarola ao ritmo da brisa
de minha respiração,
Contemplo o céu sereno
Em sua imensidão.
Meus olhos repousam,
Porquanto captam o
Espetáculo da vida.
Assisto ao escorrer do tempo
Grafado em asas e nuvens que atravessam o
Horizonte de minha atenção.
Com clareza compreendo que
em nenhuma cadência de instantes
O espaço permanece:
Sua forma é como o vento.
O que era infinda campina azul e
vasto vazio, pois que
livre de grifos e rupturas,
torna-se colina de algodoeiros e
fecha-se em cinza manto colérico e sóbrio.
Flechas de luz rasgam seu tecido,
E a elas se sucedem o rimbomboar da percussão sem corpo que
Anuncia a tempestade e o fastio.
Grave, estremecida,
Oscilo com o
Balanço dos céus
E, com ele,
Me recosto para sorver a fileira de cores
que se anunciam com o
romper sereno da paz:
Tal em cima, como embaixo.
Percebo, como o catartico átimo da
criança que percebe
que pode pronunciar aquilo que ouve
Que, à imagem e semelhança do Céu,
Desenha-se, instante a instante,
O enredo animado de meu coração.
Soturnas tempestades de
dor, medo, ira e amargor
Carregam consigo as suspensas partículas
de velhos hábitos insalubres,
Tornando fértil o solo d'onde brota a
flor do Silêncio.
Também meus pensamentos
Claros, lívidos, retos,
Em ocasos sinuosos se
quedam recobertos por nuvens que atordoam a visão
Para que, com o desenvolver da paciência
E firmeza para ver, sem se cegar ao clarão
Do sol
Possa absorver a luz
que nasce n'o jardim
da tranquilidade.
Se quisesse-me sempre azul
Cegaria-me à universal natureza
Que me faz céu.