A carta
Às vezes me bate uma vontade de escrever.
Carta.
E em seguida sair para colocá-la no correio.
Já imaginando que terei uma resposta.
Algo de novo, uma nova reflexão, um novo motivo.
Não é todo momento que desejo escrever um poema.
Não. Muitas vezes queria apenas um elo entre o tempo e o momento.
Elo que me fizesse vislumbrar o que há por trás da pergunta.
Alguma pergunta sem resposta?
Algum discurso sem colocação?
Não é a voz que dita.
Não é a pergunta que questiona.
É tão somente a intenção. E o pensamento.
Por que pensar em algo que não intenta?
Se a resposta é um não com muito sim?
Ora, não vejo o subjetivo na entrelinha.
Vejo a entrelinha vazia.
Um sentimento se fazendo de pontuação.
Reticências, ponto e vírgula, interrogação.
Há que buscar coerência.
Onde? Nas linhas por preencher?
Ou na parábola que mastigo
para alimentar o riso da fábula?
Não quero a palavra mansa.
Quero a persistência,
o branco no preto,
o fim, o meio e o começo.
O certo do incerto em labaredas.
A visão descortinando a escuridão.
E uma carta com algum endereço.