Dueto quase franciscano
I: Descalço
Edson Gonçalves Ferreira
Gosto de andar descalço nas gramas
Sinto que o verde alcança a alma
Gosto de andar descalço em casa
Para sentir a ternura do assoalho
Gosto de andar descalço, sentimentalmente,
Para que eu possa me machucar amando
Gosto de andar descalço
Porque descalçado, lembro-me do Pobre de Deus.
II: Calçado me faço à vida
Henricabílio
Gosto de andar calçado
Porque tem pedras no meu caminho;
Gosto de andar calçado
Porque a vida tem muito espinho;
Gosto de andar calçado
Para não ficar constipado;
Gosto de andar calçado
Porque o sapato me fica bem;
Gosto de tirar o calçado
Para dormir com o meu bem.
Réplica:
Edson Gonçalves Ferreira
O poeta português calçado e
O poeta brasileiro descalço só procuram,
Cada um, a seu jeito, uma maneira de cultuar a vida
Que, de toda maneira, só vale se for canção,
Só vale quando dói,
Só vale quando encanta.
Aos amigos calçados ou descalços do Recanto das Letras.