SODOMIA

Nuvens.

Esparsas.

Carregadas.

Todas a rondarem

minha cabeça.

Pesadas. Densas.

Não se dissipam.

Não deixam o dia clarear.

Dia escuro.

Sombrio.

Como os que eu sentia

na minha Infância.

Ao ver o meu querer

sendo substituído

pelo meu não querer.

Não sendo respeitado.

Sendo maltratado.

Sodomizado.

E tinha de não falar.

O medo predominava.

Aterrorizava uma criança

que queria crescer como as outras.

Não pode.

Teve de viver na Esperança

de crescer

e de todos se vingar.

Todos que de uma forma

ou de outra

permitiram esse ultraje.

O crescimento custou,

demorou a chegar.

Quando chegou,

a minha criança morreu.

O tempo passou..

Décadas findaram.

As feridas continuam expostas.

As Vinganças,

o Tempo mesmo as realizou.

Só agora,

consigo fechar os olhos

e ficar algumas horas,

alguns dias,

sem pensar

nos Crimes que me cometeram.