Eu não sou o que sou
Eu não sou o que sou.
Eu sou o que fui:
Não se desacontece
o acontecido.
Sou também o que faltou ser,
O que serei,
O que posso tornar-me.
E o que não fui
Poderia ter sido.
Não se pode desfalar o que foi falado
Não se pode desver o que foi visto
Não se pode dissolver o passado.
Porque tudo o que é,
é para a eternidade.
Permanece como os calcários que transmutam-se em rochas
E viram enfeites de rio transparente.
Como as ondas sonoras que reverberam, ecoam, refletem e refratam
Mas jamais morrem completamente.
A gente não se desfaz.
O que a gente faz é fazer novos feitos -
Ver novas vistas
Falar novas falas.
A gente faz as malas.
E vai sendo diferente
Mas nada se vai
realmente.
E em nós tudo se mistura
sem se perder
Algo esmorece para outro algo
ascender.
Um fato ganha sentido em outro fato.
Um sentimento gera outro sentimento maior
e diminui.
Onde abundou o pecado, não desabundou o pecado
Mas superabundou a graça.
Por isso eu não sou o que sou,
Eu sou o que estou.
E eu vou sendo uma coisa
Até ser outra.
Só Deus é o que é.