talvez
a palavra ainda caminha presa neste sonho
pés inchados
ferida
caixa torácica:
corro
tempo que não para
morro
na próxima esquina
outra noite oca
outra manhã incerta
vento frio
assovio
a palavra chicoteia as horas
pinta um rosto
no vão da memória
límpido
líquido
ilusório
chama-lhe
madrugada
dia outro
nome-manhã
há sede
há fome
dói pensar no nunca mais
palavra última
palavra não dita
a escorrer da boca
silêncio:
não dói pensar que talvez eu morra
*Poema publicado na Antologia Identidades
Editora Venas Abiertas
2021