o que me prende?
tive que voltar aqui.
Não escolhi, praticamente
fui arremessado a esse ponto,
por necessidade como por vontade,
pois, me faltava pão, água, um
abraço, a alegria foi a que
acabou mais rápido, não
me venha dizer que eu teria que
economizar, essas coisas tem
vida própria, quanto estava
no meu embornal, soube apreciar
ao ponto que me tornava ela.
o caminho até chegar aqui
foi demorado, tortuosa, pra
ser sincero havia esquecido
como voltar. Tive alguma ajuda
também encontrei alguns trapaceiros,
pensei em voltar, mas já não sabia,
tamanha foi as voltas
que dei .Agora estou aqui, diante
de uma muralha, transparente como
os dias, mas incorruptível como um
diamante. Alguém me disse se
rompesse esse bloqueio, nossas
terras voltariam a ter chuva,
árvores floridas, comida à vontade,
a alegria de ver, e toda sorte
de sonho realizado. Um homem velho,
que me falaram sábio, me deu
um conselho, que sentasse do
lado da muralha e apenas esperasse,
que nada podíamos fazer dissolve-la,
pois ela não entendia força, ou
brabeza, pedrada, ou empurrão,
acender uma fogueira perto dela,
e ver sua imensa estrutura saber.
no entanto, vejo que ela é grande
pra cima e é grande pra baixo.
que sua matéria prima não se enforma
no espaço, mas apenas no tempo
ou o próprio tempo bateu nas
pedras, se dobrou e se fez morada
num lugar distante, onde a consciência
mal pode chegar. Esse muro é fixo,
mas não tem volume como as coisas
que existem lá fora, apenas uma
dimensão, e mesmo assim se coaduna
com a fantasia e se torna ferro,
pedra, madeira, cimento, catedral
de gelo. olho pra ele e tenho medo
olho pra ele e tenho medo de me
apegar a ele, olho pra ele e sinto
que ele também me olha, não me
reconhecendo, mas me dizendo o que
não posso ouvir, me falaram que o
silêncio ele ouve, no entanto, tenho
dias tão calado, onde algo quase
me engole até que alguma palavra
me faz lembrar de mim, outro sábio,
esse bem mais velho, que já percorreu
caminhos que o levaram a outra escada,
disse que, o que o muro esconde, não está
atrás dele, mas no vão de onde ele
foi erguido, mas sinto-o tão fixado,
como se o ferro de alguma construção
se derretesse e o fundisse com outras
estruturas. chorar, já chorei muito,
gritar, pra quem ouvir? ofender, creio
que ele encolheria ainda mais na sua
posição. acendo outra fogueira, sento-me
de modo que meu rosto brilharia se
alguém mais tivesse aqui. Tomo o meu
café, então me lembro que assim como
o muro, eu também sou tempo, além
de intuir que ele sou eu quando
ainda era menino, que nada sabia,
salvo, da loucura dos adultos , só
mais tarde soube que sabiam
transformar água em gelo