Confissões
Que triste o seu destino a mim destinado!
Ela, o meu presente, meu futuro e até meu passado,
Entre tantos campos incertos é no meu justamente
E teve a mim como seu poeta, infelizmente.
E tem meus poemas e minhas juras nubladas em cor,
Mas não como os de Shakespeare, que faz imortal o amor!
Não sou hábil em a comparar com um dia de verão,
Apenas penso nela e nas ausências que um dia virão.
Nem como Moraes, sonorizando a beleza próxima ao mar,
E as palavras que fazem o corpo dela dançar...
Quando o poema tímido e quieto respira em som
Mesmo no silêncio ou com os acordes do amigo Tom.
Talvez Rimbaud? Apelando às quintessências da poesia
Ou seu Verlaine, sofrendo em solidão com nostalgia.
A rebeldia clássica e educada, nas palavras francesas...
Quando ela olha para o céu, surgem novas surpresas!
Qual a forma ideal de compor para ela a eternidade?
Meu sentimento não tem quatorze versos de idade,
Como os sonetos decassílabos que compunha Camões.
E o amor que arde em mim nem sequer tem traduções.
Sempre vou lembrar dela quando tentar a esquecer,
As palavras que vêm e que vão como passarinhos ao ler,
Como Quintana em seus versos simples e seus cantares,
Mas leitura alguma sustenta ela no céu ou nos ares.
A sutileza ácida de Wilde ou Edgar, grotesco e divino?
Os serafins celestes não me ajudariam a compor tal hino:
Um reino à beira-mar e ela criança ali brincando.
Tudo que faço é ficar meus sofrimentos elaborando.
Quão triste é não conseguir elaborar o que eu mesmo sinto!
Como Pope, quem sabe... mas na minha escrita minto.
A ideia de um brilho eterno, mas desta vez sem lembranças,
Cada verso meu é uma tentativa de novas esperanças.
A safadeza do velho Bukowski, o corpo dela anseio sentir!
Ou melhor de Sade, poderia eu com erotismo a seduzir?
Não... mas imagino o sabor dela, do próprio fruto proibido!
Entretanto, meu amor por ela é puro, vai além da libido.
Como Dante Alighieri e sua escatologia italiana,
Aqui não há versos inocentes, apenas a arte profana.
Chego ao fim e na última camada, a mais fria do Inferno.
E o calor que sinto por ela refuta Vivaldi e seu inverno.
A verdade triste é que nenhuma poesia seria a certa,
Por séculos e rimas compondo do amor a descoberta.
Não importa quantos poetas, nas passadas ou nesta lida,
Nenhum pode a descrever ou o que sinto por sua vida.