Simultaneidade
Ao caminhar nesta rua percebo-me
E a certeza gritante arranca-me do ser;
Torno-me outro alguém, não além,
Mas em parte aquém disto tudo.
Coração palpitante, lágrimas de sangue,
Vermes e urubus comem a carne,
Não mais a mesma...
Sinto-me distante a tudo, novamente indiferente,
Mato-me matando e continuarei a matar,
Profanado o que chamaste de vida;
A existência é uma condenação ao degredo,
Que é sofrimento inatingível,
Palavras vãs, filosofias e saberes inúteis,
Inutilizo-me pois sou e só aí, então,
Mato a todos vocês
E continuarei matando, pois sou um assassino.
Nestes versos despejo-me com a consciência gritante do nada saber,
Percorro a rua até o fim inatingível,
O horizonte do saber e torno-me ele,
O caminho escuro e solitário que percorro, ébrio saber.
A existência é solidão, existir é saber que não há salvação,
Amar é negar-se, crer é não existir e eu sou apenas um homem.
Mato, enfio toda a faca no estômago,
Minha mão adentra, sinto as vísceras,
Minha mão já não é distinguível de uma parte sua,
Encharcada de sangue pergunto, quem está morrendo?
E assim torno-me a ser o que sempre fui,
Vida, uma só...
As palavras se vão, os discursos se vão,
Os sistemas desmoronam-se e eu amo,
Ah como eu amo, a vida.