poema que diz nada
a folha em branco
é desafio do poema,
saber se dizer numa
névoa de nada, ou
nada como névoa,
outro desafio, diz
o que nãose pode
contar para um amigo,
à esposa, o psicanalista
mais bem treinado,
dizer o que não cabe
nas palavras, ainda que
o único recurso, seja
elas mesmas, estruradas
numa liguagem, o poema
não sabe contar, medir
comparar, o poema só
pode, quando acerta,
mostrar, e o que esse
poema mostra, a vertigem
inalgurada, a queda necessária,
a viagem que não se movimenta
o palco abandonado, e platéia
que se foi, o poema se estende
sobre o universo, pelas praias,
montanhas, pelo desespero mais
macabro, anda tanto, sem andar
nada, pra encontrar a melhor
frase, aquela desvela, não
algo, mas a travessia dos
desenganados, que nos dá uma
metafísica do presente
vai ali, acolá, não sabe como
comentar, no final sai o poema,
nesse caso, mudo, cego e sem
mãos para desenhar, o poema
está pronto, o que ele mostra?
nada, como esse nada, o poema
não salva, nem anima, nem dar
o leite da manhã, no entanto, nos
diz o impensável e nos ensina
sobre nada