quando eu escrevo...
meu rio se abre.
Porque é impossível não reidratar
as matas ciliares dos caminhos,
tão ressequidas pelas águas não recicladas.
Quando eu escrevo
Meu rio se abre
sob um sol escaldante.
E eu,
continuo a escalada íngreme
das minhas águas sedentas,
em circunvoluções pelas veredas assoreadas,
com a mesma invisibilidade de chegada
aos deságues das vidas.
Então, rastelo com minhas letras
todo o leito de solo aquecido
como quem busca água para hidratar o humo d' alma.
É quando
evaporo os tantos lixos desovados nas torrentes,
feitos de matéria pútrida e nunca recicláveis
que ceifam quaisquer possibilidades de fartas torrentes.
Quando eu escrevo,
sou qual milagre duma cabeça d'água no deserto
que renasce qual cachoeira de sentimentos represados.
Abro, então, todas as minhas comportas emperradas
posto que é impossível se seguir fluido de esperança
em meio ao solo encharcado de duros sólidos imperecíveis.
Quando eu escrevo, só sou eu...
A chover meu rio na tempestade,
a espargir lamentos pelas encostas
ao todo contento esperançoso de poder, enfim,
desaguar em terra limpa.
...é assim que sigo, na fluidez de quando eu escrevo...