Memorial

Memorial

Ai, que saudade, que saudade!

A memória abandonou o pós-moderno e foi buscar na parede da copa da velha casa a “folhinha do Sagrado Coração de Jesus ”.

A mãe era devota.

365 era quase a resma dos dias marcados por folhas que se descartavam como um ritual. Dia tal o dia deste ou daquele santo marcava-se ali. Tinha-se o início das estações e as fases da lua era fatal. Não faltava. A mãe era filha de Maria.

A folha destacada servia como marcador de livro como relíquia cronológica na caixa de recordação.

A mãe seguia os preceitos.

Rompi com os santos.

Revoltei contra a devoção.

Recalques nunca mais.

Exorcizei neuroses.

A porta se abriu e vi guardado na memória o relicário materno deixado como herança.

Eu me apossei de meu quinhão: o coração sangrando.

“O diabo mora nos detalhes”.

Leonardo Lisbôa

Caderno Pensamento

Barbacena, 31/01/2017

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Nardo Leo Lisbôa
Enviado por Nardo Leo Lisbôa em 09/10/2021
Código do texto: T7359729
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