Desejos em mim
Desejos em mim
Que póstumas rosas velaram
E as macerando fez perfume
Ante as mortes ao léu
De seres tais santos e belos.
Frieza do eu
Que olha e não mais chora
Mas que chorara, ante outrora,
E que enxugou-se
De palavras impróprias.
Calor do centro da terra
Enche-me de louvor pelos mortos
Que, nelas reside favor
Calor, que retrai a vida de quem
Nada pode mais lamentar.
Percevejos em mim
E borboletas, e besouros
Aos todos felizes exultar
Vida minha que se foi
Sonhos febris no subsolo.
Mas, desejos em meu âmago
De sermos sol, e lua, e estrelas
Ao sucumbir nos buracos negros
No seio do infinito, eu e a vida
Finitudes pairar.
Ao final do ensaio não sei se viva estou
Ou se respiro no cume das canções
Das florestas negras e encantadas de meu ser
Ou se, enterrada e póstuma, como as flores,
Exulto ao chão à espera das borboletas que ainda hão
De me querer.