Desejos em mim

Desejos em mim

Que póstumas rosas velaram

E as macerando fez perfume

Ante as mortes ao léu

De seres tais santos e belos.

Frieza do eu

Que olha e não mais chora

Mas que chorara, ante outrora,

E que enxugou-se

De palavras impróprias.

Calor do centro da terra

Enche-me de louvor pelos mortos

Que, nelas reside favor

Calor, que retrai a vida de quem

Nada pode mais lamentar.

Percevejos em mim

E borboletas, e besouros

Aos todos felizes exultar

Vida minha que se foi

Sonhos febris no subsolo.

Mas, desejos em meu âmago

De sermos sol, e lua, e estrelas

Ao sucumbir nos buracos negros

No seio do infinito, eu e a vida

Finitudes pairar.

Ao final do ensaio não sei se viva estou

Ou se respiro no cume das canções

Das florestas negras e encantadas de meu ser

Ou se, enterrada e póstuma, como as flores,

Exulto ao chão à espera das borboletas que ainda hão

De me querer.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 30/09/2021
Reeditado em 03/10/2021
Código do texto: T7353940
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