valete de fogo

vou indo para o outro lado

desse lado mesmo,

estou indo pra outra

cidade, nessa mesma

cidade onde meus pés plantaram

sua forma no jardim,

vou indo sim, pra outra

casa, mas essa que ainda

o telhado me protege da

chuva e onde mora meu

amor: guarda chuva de

granizo, vou pra outro

abismo, mas é esse mesmo

que proncia a morte e a vida

na mesma baforada, pra outra

praça, onde a forma, os bancos

e até os namorados, são os

mesmos que prometem amor

a vida inteira e não

sabem quantos amores

vão abandonar, ou quantas

vezes os olhos molhados saberão

mais que sua cabeça, e do mesmo

jeito, pra outra terra, outro

cenário, que tem inverno e

primavera, não apenas a outro

lugar, mas a outro tempo

que, como esse ninguém

consegue escapar, vou

mudar de amor, mas terá

a mesma cara, dessa que do

meu lado me torna mais

laureado, alegre, triste

às vezes zangado, que

quando diz que vai embora

me enche de pavor, vou

ser outro, que outro seria

esse, senão esse que escreve

numa mesa, onde uma garrafa

de café se esvazia e uma

toalha ainda do café da

manha deita sobre suas ancas?

esse mesmo outro, que faminto

faz da linguagem o pão, que

se diz formal, mas não passar

de um libertino. vou e minhas

penas nada saberão dessa

jornada.