o tempo presente
sou homem, nasci da tempestade, nas águas
que escorreram por ruas escandalosas, onde
havia saia que rodava pernas de outras eras,
que ladrava como um pescoço nas tardes de vento,
sou as escadarias que desci, fogo, a madeira colhida
ainda verde jorrando sangue pelas palavras, anoto
um a um os momentos indecisos, faço conluio com o
escuro, depois explodo como uma moça nas trilhas
de milho e sabão. Piso o solo, mas eu sou também
o solo, sol, arma e luneta, essa árvore gigantesca que á beira da
casa conta casos pra quem passa, ainda jovem
cair numa bolsa de soluços, e vaguei como
um dádiva nos sobrados da rua principal,
amava-a como essa mão que sem saber de
onde vem as palavras me inscreve no seio da eternidade.
Essa moça me apareceu e o céu desaguo sua beleza
sobre a terra, e espalhou luz nos recônditos mais
doloridos, essa moça pôs fogo nas águas, e a vida
se desdobrou como um vestido rendado na senhora
mais bela da escola, eu ganhei um paraíso por
alguns meses, gastei todo e fui tudo e todo
naqueles dias que hoje me lembra uma galáxia emoldurada
na mesa de jantar, dancei com as gaivotas, fui
bruto e penetrei nas águas mais profundas, nos
bosques mais escuros, nas marés mais alta
desse mar que nunca nos deixa, assaltaria o corvo de sua
sina de se fazer deitar. então, quando a prece
se fazia gente e e todo o planeta era um grande
raio lunar, mas mudando de assunto, esse poema
bebe comigo esse vinho, come comigo essa verdura
deita comigo quando amo o espaço e o tempo num
só ponto de convergência. Então o cavalo do passado
não me alcança, nem sou seduzido pela donzela que
do futuro me oferece a fruta mais doce, o quarto
mais quente e as pernas mais aveludas, respiro
o único tempo que existe, esse que nunca acaba.