razão do engano
de cima o turbilhão
sem corda, o ruivo
de um cachorro louco,
descer, já desci e a
lembrança de suas corredeiras
de arame e medo não te
deixa partir, desde
então apenas espero
a hora sagrada, digo,
melhor, não digo, a
linguagem também
tem seu pranto, sua
hora noturno, seu
suborno estragado,
estranha ciranda
de miragens, porque
me abandonaste, poderia
dizer, mas o fogo já
foi posto, e suas labaredas
já tomaram o campo de trigo,
minha carne é toda do fogo
meus dentes, minhas mãos
meu umbigo são carvões
do amanhã, hoje, apenas
escrevo com as mãos tremulas,
poderia dizer que seja apenas
um vazio e não um vulcão sem
dono, sem lastro, uma implosão,
e não esperada explosão de
flores e diamantes,
corro pela casa, que casa, corro pelo
quintal, que quintal, não
sei correr quando até as
pernas me golpeiam o ventre,
dizem que coração não terra
que se passeia, teria eu
eu desses, que bomba a vida
a vida toda? ou apenas espero
a hora do trem numa madrugada,
onde apenas eu e meus degredos
estão na plataforma? aliás
quem é esse que observa,
será também o observado?
vivo, profundo, dolorido,
sou tantos, ou apenas
um que num caleidoscópio
de tantas faces quanto
essa gente, que milhares
não sei o nome, se tem um
fizil guardado, se ama,
ou apenas simula uma vida
gentil. quem observa de cima
essa revolta contida, esse
grito abafado, esse horror
que no peito espraia, sem
receita, vago na teia do
nada, talvez eu seja mesmo
esse nada, e não o encanto
que procuro, e esse nada
seja nada, por onde
comecei as primeiras braçadas
digo não digo, um grande
engano mostra sua cara.