Casal de pouca sorte
Quando tu somes por um momento a vida perde em emoção, isto é
na mesma proporção em que me vejo a procurar-te, ir ao delegado e de ti dar parte, pelo crime de abandono, ilicitude que me tira o sono, nas noites de insônia, que as dividia contigo, naquele ombro amigo sempre ali a me ouvir, mesmo sabendo que um dia irias partir, pra ser consolo de outra pessoa, desta que a gente caçoa, somente por tentar reproduzir, a nossa própria história, que tentativa vexatória, pois dessa fôrma só fizeram essa, e pode até fazer promessa, que será de tudo igual, esquecendo que era algo maior, talvez um lance espiritual, ou talvez castigo de Deus, escolheu dois filhos dos seus só pra seu divertimento, que brincadeira sem fundamento, prender eles um ao outro, sem inventar o desatar deste nó, lá de cima ele gargalha só, enquanto aqui em baixo o chicote estrala, dizendo "verei os dois só de bengala", presos e praguejados, pelos pobres coitados, que tiveram o enorme azar, de um dia atravessar essa briga de foice sem corte, diversão dos deuses é o casal de pouca sorte.