CAMISA PRETA
Caramba!
Que saudade de usar preto!
Umas daquelas camisas pretas
Bem ajustadas
Dois botões abertos até o peito
Com as mangas três-quartos,
Em que, à noite, eu despojava
A casualidade entre esquinas
Várias pessoas eu cativava
Enquanto pegava outra bebida.
Flertes incapazes
De manipular o vento
De parar o tempo
E guardar todas as frases
Ditas, em clichês, aos montes
Pela madrugada, até amanhecer
Cujo cheiro era profundo
Tinha a amplidão do horizonte
A solidão do escuro
E a surpresa do prazer.
Caramba!
Saudades de usar preto!
Sinto falta de ser insuspeito
De não repetir palavras
[com mesmo efeito
Saudades de mim,
Com mil defeitos,
De ser perene
Ante as intermitências
De ser infrene
Nas ambivalências.
A rima pobre, afinal,
Tem seu valor
E toda ode encobre
Seu fraco conteúdo
[original
Que não estou preparado
[pra dispor
Senti-me, ao revés, apto
Em escrever poesia
Para quem não gosta de poesia!
Com frases curtas
Quem sabe eu cause impacto
Àqueles quem navegam pela
[internet
E eu deixe de saia justa,
Quiçá num teste,
Um princípio de infarto,
A dicotomia.
Sinto falta de usar aquela camisa
[preta…
Ela me deixava falante, escritor
Mas esse sol (tirano) latino
Não nos deixa vestir roupa
Que, pelo jeito, desbotou
Nesse alvejante incolor
Porque a idade não (nos) poupa
O alvissareiro menino
Cuja camisa preta mofou…