CAMISA PRETA

Caramba!

Que saudade de usar preto!

Umas daquelas camisas pretas

Bem ajustadas

Dois botões abertos até o peito

Com as mangas três-quartos,

Em que, à noite, eu despojava

A casualidade entre esquinas

Várias pessoas eu cativava

Enquanto pegava outra bebida.

Flertes incapazes

De manipular o vento

De parar o tempo

E guardar todas as frases

Ditas, em clichês, aos montes

Pela madrugada, até amanhecer

Cujo cheiro era profundo

Tinha a amplidão do horizonte

A solidão do escuro

E a surpresa do prazer.

Caramba!

Saudades de usar preto!

Sinto falta de ser insuspeito

De não repetir palavras

[com mesmo efeito

Saudades de mim,

Com mil defeitos,

De ser perene

Ante as intermitências

De ser infrene

Nas ambivalências.

A rima pobre, afinal,

Tem seu valor

E toda ode encobre

Seu fraco conteúdo

[original

Que não estou preparado

[pra dispor

Senti-me, ao revés, apto

Em escrever poesia

Para quem não gosta de poesia!

Com frases curtas

Quem sabe eu cause impacto

Àqueles quem navegam pela

[internet

E eu deixe de saia justa,

Quiçá num teste,

Um princípio de infarto,

A dicotomia.

Sinto falta de usar aquela camisa

[preta…

Ela me deixava falante, escritor

Mas esse sol (tirano) latino

Não nos deixa vestir roupa

Que, pelo jeito, desbotou

Nesse alvejante incolor

Porque a idade não (nos) poupa

O alvissareiro menino

Cuja camisa preta mofou…

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 25/09/2021
Reeditado em 11/11/2022
Código do texto: T7350515
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