a cobra e eu

tomo um grago

e uma serpente

nalfraga no seu

efeito, torno-me

seu anfitrão, me

confessa que arrastar

não é bem o que queria

e morder uma presa

não é uma decisão,

se ela tivesse ombro

daria um bom tapa,

se tivesse mao, apertaria-a

como irmão, pergunto

da sua vida, tenho veneno,

mato, mas na maioria das

vezes meu costume é morrer,

que merda! digo eu,

ela diz: pois é, pergunto

se tem medo, silencia, se

mostra recatada e reclama

da solidão, como uma faísca

de fogo, sou cobra, não entende

minha situação? sequer posso

abraçar, não tenho braço, nem

tenho mão, afinal, morder

seja por desejo ou defesa, é

minha profissão, dou-lhe o trago

do meu trago, conto das minhas

penúrias, então ela fala: queria

ter braços pra te dar um abraço,

mas sou cobra, quando quero

partir, eu me arrasto, mas antes

te morderia, ela me olha

eu a olho, amo-a por

alguns segundos, me confessa

envergonhada, quero te morder!

você me causa desejo, estendo

minha mão, ela vacila, levanta

a cabeça, põe a língua pra fora,

você quer morrer! não serve pra

mim! gosto do mistério e assim

não tem graça, me confessando

que é uma cobra, digo que não

sei o que sou, e ela, irritada,

vai embora, depois de sua

partida, já não tenho braço

já não tenho pernas, me arrasto,

eu sou como ela.