LEITURAS INÚTEIS
Nenhuma palavra lida
parece-me digna de atenção
em tempos de hiper informação.
Todos os enunciados soam abstratos,
retórica vazia,
de um eu perdido de um mundo,
onde nenhum saber sabe a vida
no fazer dos atos e fatos.
Não acredito no platonismo dos letrados,
na matemática dos cientistas,
na astúcia dos jornalistas,
ou na oração dos ingênuos e otimistas.
Tenho palavras estranhas,
novidades de falas loucas,
presas na garganta
como uma espinha de peixe podre.
Elas estão grávidas do nada,
não conformam consciências,
nem pretendem dizer verdades,
sentimentos ou máximas de humanidades.
São palavras nuas,
sons de um outro mundo possível,
pura dissonância de tempos incertos de deriva,
que ferem os educados ouvidos
dos filhos do século que nos vê morrendo,
intoxicados pelo futuro
de nossas vontades mortas.
Nenhuma palavra lida
acorda a vida,
da voz ao impossível
dos ditos do corpo,
autor de todas as falas e escrita.