DESIRMANADOS
Dois frutos da mesma árvore,
dois repentes do mesmo gozo,
duas gotas do mesmo sangue.
Cresceram irmanados,
imantado, atados na mesma luz.
Um sabia o que o outro sentia,
temia, ancorava, ardia.
Um sabia onde o outro vagava,
conspirava, ungia.
Daí veio a vida e os desirmanou.
Com seus meandros frios e cruéis,
fez um repelir o outro,
fez um chutar o outro,
fez um se desirmanar do outro.
Cadê as almas fraternas?
Cadê a união eterna?
Cadê as peles se amando,
se entrelaçando,
se cerzindo?
Cadê?...
Assim se fez,
antes eram um só,
agora são dois estranhos,
rudes, insensíveis,
infelizes.
Desirmanados eternos.