livros

Quando a estante de livros da minha tia

foi reformada e novos moradores daquele

santuários misterioso e decorativo foram

chegando, os livros antigos, os recebi,

já que jogá-los fora, era uma espécie

de pecado não catalogado, recebi alegre.

Não eram livros, apesar da capa,

das folhas e dos assuntos que eles discorriam,

eram semente de plantaçao, jardim verde

na praça silenciosa que todo final de semana

colocávamos a melhor roupa para

rodá-la, até que exaustos, voltávamos

pra casa, acreditando que foi divertido

os livros eram portas de mundos,

de gente que nunca havia encontrado,

havia aqueles onde formulas químicas

simbolizava a vida que só mais tarde

saberia da sua barbárie, os livros

empilhados, separados por assunto,

minhas amantes, ou meus amantes porque

livro não tem sexo, nem o seu leitor,

arrumava de outros jeitos, via-os de

outras perspectivas, sabia-me agora

gente, mas também imensidão porque

descansados numa estante de madeira

sabia que já não morava mais na mesma

cidade nem conversa com as mesmas

pessoas, ali, Marcius Brandão me falava

dos rudimentos da matemática, Claudia

Lins da filosofia dos gregos, Os contos de

machado, Clarisse, Osmar Lins, me fazia

ver outros jeitos de viver e que cada

história curta daquela era universo

inesgotável, um cosmo onde quem os

lia também era uma estrela, ou, talvez

um asteroide quando

o livro era difícil,

Marialia Verfosa me cochichava

como as cidades cresceram

e como o homem do campo buscava a felicidade

perdida em outras cidades, onde a esperança

agora brilhava, ali, a gramática

me falava de como as frases, textos, não

eram guiados senão por regras, por lógicas,

por algo que era invisível, mas que fazia

visível ao outro aquilo que escrevíamos,

Quando minha tia reformou sua estante

reformou minha vida e me pôs fora daquela

cidade quando minhas pernas ainda

não tinha a foça pra me carregar,

e eu nunca mais fui o mesmo,

metido com tanta gente importante