Parque
Sobe, desce, sobe, desce,
Nas alturas e cá embaixo.
Vejo morros, vejo nuvens,
E a areia que arrefece.
Desce, sobe, desce, sobe,
Inferno e céu simultâneos.
Alto, baixo, alto, baixo,
Vislumbro antes o depois;
Esbarrando em meu agora,
Transcendo a linha do tempo.
Subo e desço, vento no rosto,
Desço e subo, poeira nos pés
Que me impelem para os dois.
Para frente, para trás,
Ouço o ranger da corrente
Num tubo de cor desbotada.
Para trás, para frente,
Os pés estirando e dobrando
As pernas de longas caminhadas.
Dou um pulo em meu futuro,
Retornando ao passado.
O presente, na divisa,
É quase estático, um nada.
E com o impulso que ganho
Vou mais longe a cada vez:
Para frente, para trás,
Num vai-e-vem sem parada.
Rodopio, bem veloz,
Para não sentir o caminho:
Fecho os olhos, nunca sei
Se é subida ou descida
A marcha que me imponho.
Gira-gira, tudo dá voltas.
Inclusive minha vida.
Mãe, me chama pra dentro!
Enjoei desses brinquedos.
Quero meu vira-lata,
Minha bicicleta de sucata,
Minha boneca que nunca falou...
Não sei e não quero mais
saber quem sou.