beleza escura

a tenembrosa lembrança

como lepra se espalha

pelas costas da carne

grita, fura, esperneia

seu gozo de bronze sobre

os azulejos do caminho

fogo se lança em perfumes

e faz da vida o farpado

do arame, como amar,

como guardar e não

esquecer a xicara

de vidro, o guarda-chuva,

a chave do carro, a

lembrança colorida

que outrora nos enchia

de vida, chove, o céu

está escuro, é como se

um comovente natimorto

desse algum suspiro,

será a varada assim ou

é a coroa quando a cara

da moeda já foi desgastada?

andei por entre os balaústres

de cristais, mas em

sua beirada, apenas os

homens que não sabiam do

sol nascente, da beleza

dos pássaros, das cascatas

de folhas que deixa a

floresta mais vibrante,

víboras, silencioso

paradeiro que nos enforca,

cobra e sua delicia

a escorregar perante

a presa, os dentes,

a cabeça, a boca a

desembolsar a língua

fina e partida, é

belo ver um tempo partir

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 16/09/2021
Reeditado em 16/09/2021
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