Cinco da manhã
Às cinco da manhã, todo o romance está morto
e acabado,
quando a embriaguez evaporou pelo suor,
e os olhos se abrem
feridos pelos primeiros raios do sol
e da realidade.
Pelo menos era assim,
nos dias em que eu rasgava a cidade
em busca de um pedaço
de qualquer coisa
que perdi de mim mesmo.
Quantas vezes, eu já acordei
fragmentado
entre lençóis de camas
em que nunca mais iria me deitar?
Quantas vezes eu ainda irei
cair,
e me levantar,
todo espatifado
só pra continuar caindo?
O romance está morto e enterrado
Mas eu já me acostumei
com a grama crescendo
sobre a lápide
como um tipo de prêmio
de consolação.
E enquanto o mundo segue sufocado
do lado de fora
Eu prendo a respiração
e penso nos lençóis, camas e corpos
devassados
que desfrutei,
e me pergunto,
se apenas fingi
ou se de alguma forma
os amei.