VESTES MINHAS
(Por Érica Cinara Santos)
Hoje deparei-me desnuda
Amanheceu e eu não estava em trajes de ontem
Tampouco sabia quais vestes pôr já pela manhã
Não me cabiam tais roupas, pensei
Dei-me por conta disso e gostei
Sinto calor, incômodo na pele
Preciso do toque do vento sem barreiras
Quero as carícias da brisa inteiras
O afago do sol, o banho de chuva
Quero sentir o mundo e a mim; olhar para tudo sem lentes
Andarei sem pesos sobre o meu corpo e sem correntes em torno da minha mente
Andarei assim para que eu seja capaz de identificar com absoluta clareza a beleza da figura que me encara no espelho
Aconselho a mim eliminar os riscos de confundi-la com retalhos do que não me coube em minha trajetória até aqui
Quero saber-me na íntegra
E só então poderei efetivamente escolher o que vestir
O que melhor me apraz
O que me suaviza e me torna voraz
O que me protege e valoriza o corpo sem empalidecer a minha alma
O que compõe o que verdadeiramente sou
Porque não me importam os padrões, os costumes, as etiquetas, as impressões alheias
Sou o que pulsa em minhas veias
Quem eu sou é a minha única moda
E me permito desfilá-la pela vida em múltiplas coleções
Em todas as cores e desenhos que me caibam
Eis que, saibam,
Eu sou a fonte de quem eu sou!
OBS: Embora em versos, eis aqui quase uma prosa poética. Sem tantas rimas como as composições costumeiras de minha lavra.
Amo as rimas e as construções mais elaboradas, sim, as amo. Mas aqui deixo-vos um poema livre. Para desnudar-me hoje um pouco mais em minha escrivaninha.
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"Quando um anjo se desnuda
Apenas outro anjo ver
Como um poeta crer
Que o belo não perturba"
Interação com o poeta Jacó Filho