NA ROÇA...
NA ROÇA...
Carlos Roberto Martins de Souza
A regra é acordar cedo e tomar um café
Preparar o corpo para a grande jornada
Sair para a luta com Deus com muita fé
Não abrir mão seguir firme a caminhada
Lá cinco da manhã já não é madrugada
Cafezinho broa quentinha no despertar
Começar o dia na alegria da passarada
Roceiro humilde não vê o tempo passar
Onde o sol da manhã ilumina a estrada
E um povo feliz começa o seu caminhar
O roceiro sai para mais uma empreitada
Todos prontos alegres eles vão batalhar
A tardinha quando o galo sobe no poleiro
Avisando que é hora do peão descansar
Lá do roçado já de volta vem o vaqueiro
Tirou leite colheu ele agora vai repousar
As lavadeiras com aquela carga pesada
São trouxas de roupas da lida na cabeça
Rumo ao rio para lavar na pedra lascada
A trouxa de roupa suja antes que anoiteça
Que orgulho eu tenho do meu belo sertão
Ser seu morador e prisioneiro nesta terra
Um sonho que eu carrego no meu coração
Morar em uma casinha lá no pé da serra
Lá onde se presta favor sem olhar a cor
Ser tratado sem cerimônia como senhor
Ser parte deste povo humilde acolhedor
Viver dividir sorrir sentir juntos a sua dor
Meu terrão tão lisonjeiro onde galo canta
Sendo o despertador do roceiro do sertão
Com suas melodias a madrugada encanta
Fazendo ecoar em orquestra uma canção
Na cidade sonho sempre é uma ambição
Uma luta sem pudor sem nenhuma regra
Na roça sonhar é coisa do pobre coração
Que a vida dura do roceiro sofrido alegra
Na cidade casas tão próximas e distantes
Uma sobre a outra são tais apartamentos
Ninguém se conhece são meros visitantes
Parece até retirantes em acampamentos
Lá eu não sei o nome do vizinho de porta
Muito menos do velho e do bom mercador
A vida agitada ali parece uma coisa morta
As pessoas não sabem o que é ter pudor
A cidade é lugar sem fé onde até do galo
Seu cantar é substituído pelo despertador
Onde sonho é sempre ambição e embalo
Da vida sem sentido do triste sonhador
Lá velhos não são tratados como senhor
Na cidade predomina confusão e intrigas
Tem no trânsito maluco seu grande terror
O povo sofre com dores e muitas fadigas
Mas eu não troco minha rocinha por nada
Meu cantinho é o meu paraíso particular
Estou na cidade sou apenas emprestado
Ao final do contrato vou lá na roça morar