O poeta descalço
Edson Gonçalves Ferreira
Lembro-me, perfeitamente
Que entre minha casa, sob os carinhos de meu pai e mãe,
Do aconchego de cinco irmãos, ainda tinha a doçura dos frades
O velho convento onde, aos cinco anos, comecei a estudar latim
Os frades todos cativando a criança que, até hoje, está acordada
Sou um poeta descalço por causa deles
Assim, quando faço versos, lembro-me do incenso
Quero minha poesia leve e cheirosa para subir até Deus
Sim, até " O Deus que alegra a minha juventude"
Sou aduto, o meu coração não
Por isso, ainda gosto de andar descalço,
Pisar na terra molhada de chuva, brincar com os passarinhos
E, sempre que possível, conversar com tudo o quanto existe
Todas as criaturas são nossas irmãs
O menino Edson aprendeu isso muito cedo
E, se por um lado, se alegra pelo muito que recebeu
Por outro, lamenta porque o poeta, mesmo descalço, paga caro
Muito caro pela sensibilidade exacerbada
Que, talvez, nos santifique, talvez.
Para meus amigos do Recanto das Letras, com votos de ótima semana e feriado e um carinho especial para Sônia Ortega, Beto Wada e garotos no Japão.
Divinópolis, 12.11.07