Lacrimal

Lacrimal

Sandra Ravanini

Foge de si nas mesmas voltas ao mundo

despedaçando a opaca luz da redoma,

colhe de si o culto agreste e beija a lona

em silêncio oprimindo os ermos segundos.

Foge de si no exato círculo tão infiel,

palavras alagando essa despedida

num choro sem graça às flores esmaecidas,

brotando o adeus ao espinhoso silêncio cruel.

Foge o sol anoitecendo o dia cinzento,

apagando a chama, verte da lacrimal

a decomposição dum enxerto mortal

quebrando a confissão às secreções e ungüentos.

Foge a lua do azul, não há mais firmamento,

e sem chão ou espinhos agrestes, beija ninguém

e foge de si num choro apontando o além,

e o sol colhe o culto de um mundo cinzento.

24/07/2007

13h28