VENUS INCOMPREHENSIBILEM
pedi tua nudez
quando não havia mais ninguém
além de mim e teu desdém
pedi tua senha
num momento de desespero
para ter em em mim teu cheiro
pedi a mão, a pele, o útero maduro
pedi teu contorno precioso no escuro
mas me negaste até a visão da cicatriz
de parto que carregas entre os quadris
pedi ingresso, acesso, direito de uso
do teu corpo marcado, imperfeito e confuso
mas me negaste até a possibilidade
de saber qual o gosto do néctar da tua idade
pedi um sussurro
ouvi apenas insensatez
em húngaro e polonês
pedi perdão
por ter sido tão inocente
em querer reconquistar o ocidente
pedi muito de tudo, mente, coração
para, em cinco minutos, derramar minha semente no chão
mas me negaste até a hipótese de ver-me como mera ferramenta
que se usa e aposenta
pedi, porém não deste
preferiste manter-te celeste
a te apartar da limpeza de teus seios
assimétricos, feios.