Tarde de outono

Do prenhe outono,

Em que se engendra

A flor da náusea,

Exulta-se a neblina vil,

No seu flutuar suave,

Derrama-nos suas cinzas lágrimas.

Vi-te arder, desenfreada, sem dono;

Vii-te chamuscar a pedra;

Vi-te caminhar sobre a areia.

Agora que te apagas:

Por que nos cobre com tuas exúvias?

Arrependes-te de descer aos homens?

Por isso, castigas-nos.

Do divino trono, quando foste roubado,

Trouxestes-nos a nossa pobre condição:

Bagunçaste as minhas entranhas

E deste teu calor à minha imaginação.

Sobram-me as pneumopatias

Sob sua cortina plúmbea.

Doe-me a alma a sentir-te

No turvo céu.

Causaste uma tenebrosa devassidão;

Tu tens uma fome gigante:

Quanto mais lhe enchem a barriga,

Mais lhe aumenta o ímpeto de comer.

Tornaste-te onipotente,

Dominas, novamente, as donas de casa

E por tudo culpam-te os cientistas.

Quando tu ardeste sem ser visto,

Disseram-me que tu foras amor.

Este tempo, os homens já não o recordam,

Só, ó viandante, percorreste planícies e planaltos;

Já não refletes cousa alguma;

Caminha, caminha, caminha:

Não para!

De rápidos pés, tu, a lampejar,

Escureces toda imensidão.

Restam, somente, ainda:

Cinzas; pó e lassidão.

Na monocromática paisagem,

Ergue-se o abutre, que,

Do bico, escorre-se a negra bile.

Escute-me, retinta ave:

- Cessa teus trabalhos;

Pois a própria dádiva,

Agora, sufoca-nos com

Cinzas; pó e lassidão.