mas eu não posso querer ser nada
não é preciso estar sozinha
pra ser solitária
a grande ironia do universo
que eu odeio
é que um bando de solitários
podem estar juntos
e que diferença isso faz?
eu sinto que fracassei
até em dizer que fracassei
minha imaginação é potente
mas a mão é fraca
sinto o nada
que não sou nada
mas o nada já é alguma coisa
e aí entramos em conflito
o nada: se eu penso, ele existe
logo, não pode ser nada
ah, que seja!
amor eu não sei
mas o nada eu sinto
o conceito, cada letra
é difícil aceitar a pílula que eu tomei
ser alheio deve ser menos sofrido
mas eu também estou cada vez mais desligada
só a mente que não para
que é invencível
inescrupulosa
inexata
inegavelmente cômica
e ácida
a parte que eu renego todo santo dia
eu poderia tomar o resto de vergonha
que envelhece no copo
e escrever tudo, qualquer coisa, a todo momento
sempre
e tanto
e pra sempre
é quando eu fracasso de propósito
pra ter aquela sensação de
“não escrevo pra ser bom,
escrevo porque preciso”
eu escrevo,
apenas