uma carta de amor

o fundo é alto

altura emborcada

altura feita de nada,

o fundo é fundo

como é funda essa

vontade de amar,

de saltar sobre o

fogo e me enxaguar

em suas chamas, como

é essa vontade subir

até a terra, ou descer

aos céus, vontade de

abrir entre as árvores

asas de pedras, e atirar

pra longe esse perto

que me encanta, amar

não é um verbo, é um

gancho de ferro espetado

nas palavras, poderia

dizer minha preferida,

mas nada disso me punha

de presente frente aos

seus braços, então escrevo

já que dançar me parece

mais difícil, no mais, sou

homem, já tive pai e já

tive mãe, já tive o cosmo

inquebrantável daqueles

que a vida é sempre a mesma,

mas agora, não sou, vivo nas

arquibancadas assistindo meus

gols perdidos num gramado

celestial, mas vibro a cada

gol perdido e corro pra

mim mesmo e me abraço

e me sei, e me dou, e cada

uma dessas trombadas, depois

do descanso, poderia te escrever

uma carta de amor