Receita
Receita de poesia:
Molhe o texto em camadas de lembranças sobrepostas
Descanse as memórias iluminadas por vagalumes
Unte a matéria dos sonhos com pinceladas de infinito
Revire as gavetas em busca de papel manteiga
Fite o céu sem saber se o sol se levanta ou se deita
Se adquirir um tom opaco, aumente o fogo
Ferva tudo, derreta barras de absurdo
Jogue para o alto e misture com toda força
Delire adicionando notas de uma canção antiga
E note que o vapor que sobe em espirais
É sempre uma saudade morna da infância…
Enxugue o excesso com esponjas do mar
Coletadas na praia num dia de dezembro
Deixe suas mãos escorrerem livres
Pelo caldo das palavras sem razão
Cuidando para não grudar o sentido
No fundo da travessa da ilusão.
Para saber se está no ponto
Espete com a ponta do lápis:
Poesia, quando está pronta, pulsa.