Tirano

Eu manchei teu nome, desonrei tuas lições

Pois me disseste: não cometa os meus erros

Aprenda com meus arrependimentos

Não trilhes o meu caminho.

E agora, já no fim da estrada

Cujo destino eu já conhecia

Pelo desgosto opaco nos teus olhos…

Pergunto-me:

Onde foi que estive com a cabeça

Quando optei por causar discórdia

Apenas para meu entretenimento?

Meramente para preencher meu tédio

Exibindo assim meu extenso exército

De truques impiedosos e calculados

Pavoneando-me de ser cruel

E de não carregar ressentimentos

Pois mesmo após colher a solidão

De minhas inevitáveis consequências

Despertei sorrindo malicioso

Ornando minha satírica tranquilidade.

À ciência de teus sentimentos

Fui vil e desprezível,

Indigno sequer de pena

Repulsivo como a noite

Que se esgueira por becos escuros

E proferi palavras ilusórias

Por puro ódio no meu existir cínico

Sem fé no amor,

Este bem precioso e mítico

Que nunca me foi apresentado.

Talvez eu fosse mesmo desalmado

E encontrasse prazer em causar dor

Ou apenas carecesse de bons exemplos…

Pois embora tenhas me instruído com a palavra

Tua trajetória de ações foi o que inevitavelmente segui

Para traçar meus sutis planos maquiavélicos

E tua inclinação às feitiçarias

Herdei como a uma maldição hereditária.

Tua dor, onde jamais coube a fragilidade de uma flor

Tua sina, que te exigiu nervos de aço

Tua mágoa, transmutada em fúria e cólera

Tua sorte, sempre desafortunada…

Contemplei tudo como virtudes invertidas

E por elas fui embalado em meu berço

Admirando teu intimidador poder de destruição.

E como bom filho, quero trazer-te orgulho

Cobrindo com um manto de caos o mundo

O qual vestirei ao espelho dos teus olhos

Onde todo o mal vibra,

Espumoso, púrpura, implacável.

Tudo o que aprendi a ser e sou

De onde vim e para onde vou

Aprendiz de tuas ofensas

Antítese de todas as virtudes

No meu reino de desavenças

Descrenças e desesperanças

Onde governo tirano e majestoso.

Ao sabor do isolamento ao qual tu me condenaste;

Contemplo o gélido horizonte distante

Eu, sucessor de teus afetos sangrentos.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 02/09/2021
Reeditado em 24/08/2022
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