PARADIGMA
Não fosse o escuro incerto deste quarto
Cravado entre o teu e o meu deserto,
Eu abriria, lá no fundo deste meu minúsculo mundo,
Um chão férvido de estrelas,
Cada uma contada e inscrita
Na constelação dos meus desejos mais ambíguos.
Serias tu, o colírio para meus olhos cansados de solidões,
A flor que eu, ainda pequeno e desajeitado príncipe,
Despetalei,
Quando perdi as preciosas ilusões
E caminhei sozinho pelas estações da vida
Ora, enclausurado neste mausoléu,
Ora mergulhado na luz láctea da lua
Deste céu... Ou deste mar...
Eu rasgaria tuas vestes com meu desejo insano
E no cerne da loucura ante tua nudez,
Santificaria tua imagem casta e pura.
Gritaria eternamente teu nome
Até que se rompesse a madrugada:
_Ismália! Ismália!
E no alvorecer desta insanidade,
Eu tragaria tua luz
Como quem sente sede,
Como quem sofre fome.
Quebraria todo e qualquer paradigma
Para ver-te apenas sorrir
Ou simplesmente
Sonhar...
By Nina Costa in 20/07/2021.
Mimoso do Sul, Espírito Santo, Brasil.
N.A.: Referências no texto: "Ismália", um dos poemas mais conhecidos de Alphonsus de Guimaraens (1923); O Pequeno Príncipe é uma obra do escritor, ilustrador e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, publicada em 1943 nos Estados Unidos; "Casta e pura", é um filme de 1981 dirigido por Salvatore Samperi. Estreou em Portugal a 29 de Outubro de 1982.